quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

L’absurde!















"É impossível com palavras descrever o que é necessário a quem não conhece o significado do horror. O horror… o horror tem um rosto e devemos fazer do horror um amigo. O horror e o terror moral são nossos amigos. Se não forem, então são inimigos a temer. São verdadeiros inimigos. Lembro-me quando estava nas forças especiais. Parece que foi há milhares de anos. Fomos a um acampamento para vacinar umas crianças. Depois de vacinarmos as crianças contra a poliomielite, fomos embora, e um velho veio a correr atrás de nós. Estava a chorar. Não via. Voltámos para trás. Eles tinham vindo e arrancado todos os braços vacinados. Estavam num monte. Um monte de bracinhos. Lembro-me… que chorei… chorei como uma avó qualquer. Queria arrancar os dentes. Não sabia o que fazer. Quero lembrar-me disto. Nunca o quero esquecer. Depois percebi, como se tivesse sido alvejado com um diamante, uma bala de diamante que me entrou pela testa. Pensei: “Meu Deus! Aquilo foi genial”. Que génio, que vontade para fazer aquilo. Perfeito, genuíno, completo, cristalino, puro. Depois percebi que eles eram mais fortes do que eu, porque conseguiam aguentar coisas daquela natureza. Não eram monstros, eram homens, homens treinados. Estes homens que lutavam com o coração, que tinham família, que tinham filhos, que estavam cheios de amor, tinham força… a força para fazer aquilo. Se tivesse dez divisões de homens assim, os nossos problemas seriam rapidamente solucionados. É necessário ter homens com moral e, ao mesmo tempo, capazes de utilizar o seu instinto primordial para matar sem sentimentos, sem paixão, sem raciocinar. Porque é o raciocínio que nos derrota." 

Extracto de um diálogo entre o coronel Kurtz e o capitão Willard no filme «Apocalypse Now» de Francis Ford Coppola. 






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