segunda-feira, 30 de junho de 2014

Eis-nos aqui, chegados ao Futuro















A Melhor Visão do Futuro – Leonel David Mendes (2013)


Considerações em final de temporada
Parece existir uma espécie de fatalidade quando a Rádio fala dela própria.
A temporada que agora termina deu-nos a conhecer duas reportagens de Rádio sobre a Rádio.
Uma delas chama-se «Serviço de Fiscalização», assinada pelo jornalista Nuno Domingues na TSF. Uma viagem ao ano de 1972, em que os programas «Página1» e «Tempo Zip», ambos da Rádio Renascença, foram suspensos no mesmo dia pela censura da então ditadura. Um trabalho elucidativo sobre o que era fazer Rádio com notícias em Portugal nesses tenebrosos tempos. Retrato fiel que, apesar de todas as contrariedades e inevitáveis insatisfações dos dias actuais, faz-nos ver que apesar de tudo vivemos em democracia. Talvez faltasse à reportagem explorar um pouco, na ponta final, as devidas comparações. Os entrevistados eram alguns dos mais indicados nomes para o fazerem.
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A outra reportagem foi assinada pela jornalista Rita Roque na Antena1 sobre rádios locais em Portugal. «Quando a Rádio Toca» reporta o ano negro que as rádios locais viveram em 2013. Foram apresentados números e foram visitadas três estações locais no território continental. A tutela governamental do sector, embora contactada, não prestou quaisquer declarações. Mas parece que ficou a faltar uma parte à reportagem e assim se perdeu uma boa oportunidade para se ir mais além.
A reportagem não diz quais as rádios locais que fecharam em 2013 nem fez referência à actual Lei da Rádio, que permite atropelos éticos de vária ordem. Mesmo sem poder contar com a contribuição do ministro da tutela, Miguel Poiares Maduro, faltou ouvir-se uma análise atentada sobre o futuro imediato.
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Chegados ao Futuro 
Há um quarto de século, quando deixou de haver rádio ilegal em Portugal, parecia que um mundo inteiro se abria diante dos nossos ouvidos. Eram tempos de vacas magras (como sempre foram), embora hoje em dia não se cansem de nos tentar convencer que eram de tempos de vacas gordas.
Afinal a mentalidade é que era outra e as ideias pareciam estar todas por ter. Havia muito, de facto, para se fazer em Rádio por cá.
Foi então que alguns projectos se foram especializando em temáticas várias: Rádio Notícias (a TSF foi o único caso bem sucedido), rádios jovens (NRJ-Rádio Energia foi o mais emblemático dos projectos desse cariz) rádios Rock, rádios alternativas (a XFM é o maior dos exemplos), rádios de perfil rememorativo (Memória FM; Nostalgia), rádios Jazz, Rádio Clássica (a Antena2 nunca foi ultrapassada neste domínio), rádios Pop e, cada vez menos, rádios generalistas. Ainda assim, havia espaço e mercado para todos.
Agora parece não haver espaço para ninguém. O mercado publicitário tornou-se exíguo e, em muitos casos, já não cobre todos os custos da operacionalidade.
Aproximamo-nos muito rapidamente do tempo anterior ao aparecimento das chamadas rádios-pirata, em que a radiodifusão em Portugal era um monopólio do Estado e da Igreja.
Se nada impeditivo for feito entretanto, um cenário muito semelhante a esse acabará por acontecer.
Não foi para isso que se fizeram as rádios livres. Não foi esse o Futuro que se pretendeu alcançar.



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