quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Vida em pedaços repartida












Talvez seja oportuno desmistificar de uma vez por todas que a Rádio de autor em Portugal não acabou de todo. Diminuiu imenso, isso é certo, mas não se extinguiu por completo.
Há bons programas de autor, alguns dos quais excelentes.
O grande problema para quem os quiser ouvir com assiduidade e atenção é ter de submeter-se a incómodos vários. A começar pelas frequentes mudanças de horário.
Os responsáveis pela programação radiofónica deveriam ter em conta uma regra de ouro: a constante mudança de horário de um programa não fideliza o ouvinte. As audiências têm muita dificuldade em fixarem a hora em que um programa vai para o ar. As variações de fixação na grelha de programas afastam as pessoas e não é a Internet que vai colmatar esse desequilíbrio. Só a manutenção do horário por muito tempo, de preferência durante toda a vida do programa, poderá surtir o desejado efeito de fidelização por parte de quem o escuta através da Rádio.
Outra das dificuldades do acesso do ouvinte aos programas, os que são disponibilizados na Internet, é que os sítios em que se encontram alojados, na sua maioria, não são fáceis de aceder com rapidez. Há mesmo sites que apresentam uma miríade desnecessária de obstáculos que desmotiva qualquer boa intenção em consumi-los. Tudo factores promotores de afastamento dos utilizadores em relação aos conteúdos que procuram.
A outra grande dificuldade, a maior de todas e a mais difícil de ultrapassar, se não de todo impossível, é a de ter que mudar-se de estação em busca do programa pretendido.
Já lá vai tempo em que para se escutarem bons programas de autor não era necessário mudar-se de canal. Mas essa pratica do passado é actualmente uma utopia (a temática das antenas tornou isso numa impossibilidade sem retorno), não só pelo crescimento do número de estações de rádio num dado período em Portugal, cuja proposta de variedade encontra-se há anos em notório sentido contrário, como pela já citada escassez crescente de programação de cariz autoral.
Daqui resulta a necessidade de um enorme esforço por parte do ouvinte, que vê-se obrigado a seleccionar programas de Rádio com uma disciplina quase científica. Um tarefa nada amigável, causadora de desgaste e de afastamento de ouvintes de Rádio, quando, teoricamente, deveria suceder exactamente o inverso.



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