segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Acabou-se a dança!

O que é velho e bom é moderno
José Duarte
In: «A Menina Dança»; Antena1





















- A menina dança?
- Só músicas de Sinatra!

Chegou ao fim o programa «A Menina Dança» na Antena1
Um baile levado à cena por José Duarte no palco do principal canal de radiodifusão da Rádio Pública em Portugal.
Vinte e três anos depois, acabaram-se a dança e os “diálogos” da menina Edite Sombreireiro (entretanto já reformada) com o anfitrião de sempre.
É uma das actuais notícias mais tristes do mundo da Rádio a nível nacional.
Desconheço as razões que determinaram o fim de um dos mais interessantes programas de Rádio das últimas duas décadas (com um hiato pelo meio). Em 1997 o programa foi distinguido com o prémio de Melhor Programa de Rádio, galardão atribuído pelo jornal «O Independente».
Já aqui tinha escrito em tempos que uma das principais virtudes da existência do Serviço Público de Radiodifusão em Portugal era a de permitir que profissionais de longa data, veteranos consagrados, donos de uma carreira vetusta, pudessem envelhecer com dignidade no pleno exercício da sua arte e do seu ofício.
Talvez já não seja bem assim. Talvez isso seja coisa do passado. E na velocidade dos tempos actuais, o passado fica ultrapassado depressa demais.
Parece não ser caso único e não atingir apenas veteranos. Basta lembrar que Joel Costa deixou recentemente o programa «Questões de Moral» na Antena2 (no dia 2 de Novembro de 2012) e que antes, em Julho do mesmo ano, a dupla Álvaro Costa/Miguel Quintão viu ser terminado pela Direcção o programa diário «Bons Rapazes» que realizavam na Antena3. Até à data, sem uma explicação plausível. Pelo menos é o que se retém das declarações de perplexidade dos próprios no programa «Em Nome do Ouvinte» do dia 5 de Outubro do ano transacto.
É claro que as coisas, todas as coisas na vida, um dia têm que acabar. Nenhum programa de autor na Rádio nasceu para existir sempre. Tudo o que começa acaba. Quanto mais não seja com o fim da capacidade do próprio autor. Mas o que provoca perturbação são as causas do fim não serem claras.
O que disseram Álvaro Costa e Miguel Quintão ao programa «Em Nome do Ouvinte», o que disse Joel Costa na última emissão de «Questões de Moral» e o que disse José Duarte ao longo da derradeira emissão de «A Menina Dança» levanta muitas suspeitas. É perceptível a contrariedade dos autores com o fim dos seus programas. Evidenciam claramente que a decisão não partiu deles.
Um programa de autor que termina contra a vontade do próprio é sempre um acto rude. 
Já se disse que tudo o que começa acaba, mas em prol da renovação e da boa continuidade por outros. Pelo novo, não pela novidade. Pela renovação saudável e desejável, não pela extinção ou saneamento em troca de nada, ou em troca de algo demasiadamente menor.
Infelizmente, é o que se verifica. «Bons Rapazes» [de que nunca fui grande apreciador] na Antena3 foi substituído por um espaço menos interessante (e a culpa não é de quem conduz esse espaço), «Questões de Moral» estão a ser continuadas no mesmo horário e com o mesmo autor, mas com o recurso a edições repetidas. «A Menina Dança» deixa, claramente em aberto, uma lacuna por preencher.
As belíssimas canções de época do chamado Swing, Jazz cantado ou Música de Salão. Onde mais as poderemos ouvir? E não é "apenas" esse espólio riquíssimo do cancioneiro norte-americano (na sua maioria) que cai num esquecimento irreversível. É também, e principalmente, a mestria com que era apresentado e alinhado numa encenação radiofónica que só José Duarte conseguiu elaborar de forma tão encantadora e envolvente. Havia uma pessoa por detrás de tudo isso.
Um programa de autor de grande nível que sai de cena.
Vivemos um tempo em que parece que tudo o que é bom e positivo está a acabar. 
Atravessamos, ou somos atravessados, por um estranho tempo, difuso, escuro e destrutivo.

Creio que, com os tempos, merecemos que não haja governos.
Bernardo Soares

















- A menina dança?
- Só com José Duarte!

Nem tudo acabou para José Duarte na Rádio pública. Até ver, continuam os «Cinco Minutos de Jazz», o mais antigo programa de Rádio emtido de segunda a sexta-feira em Portugal (começou em 1966).
Ontem, no horário de Domingo à noite de «A Menina Dança» (23:00/00:00) surgiu um novo programa, chamado «Rosa dos Ventos», assinado por Jorge Afonso. Sobre o qual não me posso pronunciar, pois nada ouvi. A essa hora fui para o quintal apanhar outro ar. O ar fresco e amoral da noite de Inverno.

«A Menina Dança» última emissão, transmitida no dia 30 de Dezembro de 2012 aqui  

«A Menina Dança» na «Rádio Crítica»: “SINATRA DANÇA!(21.Março.2005).



-------------------------------------------------------------------------------------------------------
O que eles dizem (96):

Nenhum jovem acredita que vai envelhecer, nenhum velho acredita que
vai morrer, nenhum empregado acredita que vai ser despedido.

D.M.K. 



<< Home