terça-feira, 16 de outubro de 2012

Queixa sobre a Rádio





















A actual Lei (absurda!) da passagem obrigatória de 25% de música portuguesa nas rádios (atenção: música portuguesa, segundo esta Lei, não significa música em língua portuguesa) tem provocado as maiores distorções em antena. Uma delas é a erradicação total das programações de artistas portugueses, que cantam em português em detrimento de, por exemplo, artistas portugueses que cantam em inglês. Mas não é tudo. As sucessivas queixas são oriundas do próprio meio musical nacional que, por ironia do destino, despoletaram a criação de tal Lei e exortavam pela criação desse mecanismo jurídico para salvaguardarem as suas obras por intermédio da passagem com assiduidade nas antenas de radiodifusão. Mas parece que ninguém ficou muito contente com esse dispositivo legal.
Os artistas nacionais continuam a queixar-se e, mesmo com o principal canal de Rádio Pública [Antena1] a emitir 60% de música “portuguesa” – muito para além da obrigatoriedade da Lei – os ecos de desagrado por parte dos criadores não cessaram. Agora é Teresa Salgueiro.
O argumento da qualidade não colhe de todo, porque há muito má música portuguesa, incomparavelmente inferior à de Teresa Salgueiro, a ter larga e repetida divulgação nos ares nacionais.
Não sou responsável pela programação de nenhuma estação e desconheço totalmente o critério que preside às estações de Rádio (se é que preside algum critério, ou se isso existe) para manterem afastada Teresa Salgueiro das chamadas airplay.
Talvez o que as rádios não perdoem é Teresa Salgueiro ter deixado os Madredeus. E um certo tipo de arrogância com que o fez, submetendo o grupo de Pedro Ayres Magalhães a uma longa travessia de cinco anos no deserto, até encontrar uma voz compatível com o reportório (e o mais parecida possível [Beatriz Nunes] com a cantora fundadora), tendo pelo meio ocorrido um desastre ecológico chamado Madredeus & a Banda Cósmica, fê-la tornar-se numa espécie de persona non grata da música portuguesa. Nesse aspecto, Teresa Salgueiro não está sozinha. Longe disso.
Também as opções de, pouco tempo depois, ter alterado o nome para Teresa com Z em vez de S (fraca manobra de Marketing entretanto já desfeita), e de ter gravado um disco em sotaque brasileiro e outro em língua espanhola, não ajudaram muito à sua imagem.
Talvez no Brasil ou em Espanha tenha mais sorte.

O que ela diz:

Tenho sido confrontada com uma grande dificuldade, para não dizer verdadeira barreira, por parte das principais rádios nacionais, no que concerne a passagem da música do meu último disco "O Mistério".
Ou seja, em muitos casos existe uma recusa categórica em passar a música, baseada em justificações como, e passo a citar: 'Esta música não é para o target da rádio; Não é música para o nosso airplay; Temos que dar às pessoas aquilo que elas querem ouvir'.
Dada a variedade da música que é possível ouvir nas diferentes estações, parecem-me bastante subjectivas estas observações.


(…)

Aquilo que escrevi anteriormente dirige-se em particular à passagem regular (ou à falta dela) de música portuguesa nas rádios nacionais e, reitero, não considero de modo algum que esta seja uma situação pessoal. Não me considero uma vítima.

Teresa Salgueiro
In: BLITZ via Facebook
04 de Outubro 2012

Variedade da música que é possível ouvir nas diferentes estações (?!)
Há dias fui assistir a um dos actuais concertos de Teresa Salgueiro, a ver se descobria O Mistério.
Tudo o que vi foi uma banda de quatro elementos (podiam chamar-se Os Noventa Por Cento Soporíferos) a imitarem os Madredeus, com a antiga vocalista dos Madredeus a querer ser uma outra coisa qualquer, sem nunca conseguir deixar de ser o que foi.
Está, pelo menos a meu ver, desvendado O Mistério e, quem sabe, uma explicação para a alegada rejeição por parte das rádios nacionais em transmitirem aquela música. Curiosamente (ou não), a música dos Madredeus continua a ser transmitida com regularidade na Rádio.
Como disse um amigo na noite do concerto, “Esvoaçaram 10 aéreos!”. 



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