quinta-feira, 3 de maio de 2012

Falta um mês

O meu trabalho sempre foi medir a distância entre a realidade e o sonho americano – o quão distante está uma coisa da outra em determinado momento
















E-Street Band em 2007 (da esquerda para a direita): Danny Federici [teclista, falecido em 2008]; Max Weinberg (baterista); Nils Lofgren (guitarrista); Roy Bittan (teclista); Clarence Clemons [saxofonista, falecido em 2011]; Bruce Springsteen (voz e guitarra); Patti Scialfa (guitarra acústica); Steve Van Zandt (guitarrista); Garry Tallent (baixista).

É grande a ligação da obra de Bruce Springsteen ao mundo da Rádio.
São várias as composições do Boss que se referem às ondas hertzianas. Para além do relativamente recente tema "Radio Nowhere" (2007), há duas canções que têm ligação directa à Rádio: "Save My Love", editado em 2010, mas gravado em 1978 aquando das sessões do álbum «Darkness of the Edge of Town», e "Bobby Jean", do famosíssimo «Born In The USA» (1984).

Bruce Springsteen & The E-Street Band - "Save My Love" (1978)
[Edição em 2010]:



Now there’s something coming through the air
That softly reminds me
A voice is coming through
So keep me in your heart tonight
So turn up your radio and darling dial me in close
We’re riding on the airwaves
Just let the music take us
And carry us home
There’s a prayer coming through the air
And it’s shot straight through my heart
Tearing open the evening sky and tearing me apart
Now I’ll ride that signal down the line
I’m home again with you
So turn up your radio
And I’ll save my love for you
Turn up your radio and I’ll save my love for you

Bruce Springsteen & The E-Street Band - "Bobby Jean" (1984)
[Ao vivo em Hyde Park, Inglaterra, em 2009]:



In some motel room therell be a radio playing
And you'll hear me sing this song
Well if you do you'll know Im thinking of you and all the miles in between
And Im just calling one last time not to change your mind
But just to say I miss you baby, good luck goodbye, bobby jean

O que eles dizem (88):

Eu só disse: "quero tocar na tua banda!". Tocámos "Spirit of The Night", olhámos um para o outro e não foi preciso dizer mais nada. Soubemos logo que éramos aquilo que faltava na vida um do outro. No fundo ele não passava de um miúdo escanzelado. Mas era um visionário e queria seguir o seu sonho. A partir daí, eu passei a fazer parte da história.

Clarence Clemons


Conheci o Clarence quando eu tinha 22 anos – é a idade do meu filho. Olho para o meu filho e ele ainda é uma criança... Aos 22 anos és um puto! Acho que o Clarence teria uns 30 na altura, portanto ele remonta ao início da minha vida adulta.
Tivemos uma relação que foi, diria, essencial desde o início. Não passava pelo que dizíamos um ao outro, mas sim pelo que acontecia quando estávamos juntos. Algo acontecia que fazia disparar a imaginação das pessoas, a minha própria imaginação e os meus sonhos.
Fez-me querer escrever canções para aquele saxofone.
Perder o Clarence foi como perder algo elementar, como a chuva ou o ar.
Mas faz parte da vida. A corrente da vida afecta até o mundo de sonho da música popular; não há fuga possível.

Bruce Springsteen
In: «BLITZ»
Abril 2012



















Desde o início da carreira que Springsteen tem ocupado as rádios um pouco por todo o mundo.
Em Portugal tem conhecido presença assídua, através de canções que percorrem várias etapas e diferentes facetas da sua já longa carreira de quatro décadas.
No entanto, os tempos primordiais estão totalmente votados ao esquecimento. O que mais se escuta na Rádio em Portugal são temas muito conhecidos, de grande sucesso e de enorme projecção comercial.
Houve um tempo em que não foi assim. Mesmo depois do estoiro à escala mundial de «Born in the USA» em 1984 – que colocou o Boss na dimensão estelar de Michael Jackson e Madonna – houve um período, de certa forma curto, em que canções dos aos 70 e da primeira metade da década e 80 tinham passagem na Rádio. Para tal facto contribuiu de forma decisiva a edição de uma caixa de cinco discos em vinil (3 CD's) da colectânea «Bruce Springsteen & The E-Street Band Live 1975-1985», editada em Outubro de 1986, a partir da qual muita da obra anterior do autor de «Born to Run» ganhou uma visibilidade algo tardia para a maioria dos ouvintes portugueses, mas absolutamente necessária para uma melhor compreensão do percurso de Springsteen com a E-Street Band.
Nada melhor que uma maratona de registos ao vivo para provocar um impacto junto das audiências. Animal de palco por excelência, a colectânea «Bruce Springsteen & The E-Street Band Live 1975-1985» mostrou todo o poderio comunicacional deste contador de estórias da América contemporânea, herói e representante das classes trabalhadoras. O primeiro e mais legítimo Rei do Rock depois de Elvis Presley. São absolutamente imperdíveis as introduções de Bruce, por vezes muito longas, a alguns dos mais emblemáticos temas, como por exemplo "The River".
A Rádio não passou ao lado de tamanho manancial sonoro e dedicou amplo espaço a esta edição histórica, apontada por grande parte da crítica como um dos melhores discos ao vivo de sempre da música popular.
O extinto (e saudoso) CMR-Correio da Manhã Rádio preencheu várias madrugadas com a passagem integral destas quase quatro horas de legado histórico de uma década de palco. Essa transmissão ocorreu essencialmente ao longo do Verão de 1987, mesmo com o spot de publicidade Malhus Informática a entrar aleatoriamente por cima das canções.
Antes disso, no início do Outono de 1986, o tema "Jersey Girl" (original de Tom Waits) era presença assídua nas manhãs da Rádio Comercial, soberbamente comandadas por José Ramos. O radialista não se cansou de dizer que aquela versão ao vivo de Springsteen ultrapassava em muito o original de Waits. E talvez estivesse certo. Tom Waits é, desde sempre, uma influência assumida e fundamental na obra de Bruce, a par de Elvis e dos Suicide.
No último dia desse ano de 1986, o programa «Rocklandia» na Antena1 dedicou a totalidade das suas duas horas de emissão à transmissão de uma selecção prévia da então recente edição do disco «Bruce Springsteen & The E-Street Band Live 1975-1985». A apresentação esteve a cargo de Jorge Alexandre Lopes, num rockpark imaginário elaborado em pleno estúdio de emissão em directo para todo o país.
Enfim, um trabalho discográfico marcante. Apesar de nos últimos tempos Bruce Springteen ter editado outros discos ao vivo, nenhum voltou a possuir semelhante importância.



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