quarta-feira, 4 de abril de 2012

João de Almeida Torto

Sonhar e tentar falhar o melhor possível














O ex-radialista (Rádio Renascença) Nanu Figueiredo foi o responsável pela música e desenho sonoro da magnífica peça de teatro «João Torto», que no passado Domingo saiu de cena no Teatro D. Maria II.

O Espectáculo

Junho de 1540, o homem anunciou: "Saibam todos os senhores habitantes desta cidade, que não terminará este dia sem se ver a maior das maravilhas, a qual vem a ser um homem desta cidade voar, com asas feitiças, da Torre da Sé ao Campo de São Mateus, pelo que responde por sua pessoa e bens, João de Almeida Torto".
20 de Junho de 1540, o homem fez: lançou-se do alto da Sé de Viseu, para voar claro, com duas asas que manufacturou.
História ou Lenda?
No curso da história, a experiência de 1540 é pioneira em Portugal e sucedeu aos estudos que Leonard da Vinci (1452-1519) desenvolveu sobre a possibilidade humana de voar.
João Torto, o espectáculo, é o sonho de todos os homens que sonham fazer mais. Em palco, o Sol nasce e todos avançamos pelo dia acima. Todos somos ecos de um só homem. E tememos, vacilamos, trememos. Mas, assumimos o mesmo compromisso: tentar falhar o melhor possível. E hoje.
Não podemos dormir enquanto é tempo.















Há a Lenda e há a História: D. Miguel da Silva, Bispo de Viseu em 1540, chegou à cidade, ou à Diocese, vindo de Itália.
Destacou-se na sociedade italiana e conviveu com nomes maiores da cultura da época. Levou para Viseu ares de Itália, influenciando, nomeadamente, a pintura de Grão Vasco e a arquitectura da cidade.
E a nós interessava-nos reescrever a Lenda e a História: durante a permanência em Itália, D. Miguel da Silva terá conhecido Leonardo da Vinci. Leonardo, é sabido, sonhou com a possibilidade humana de voo. Já em Viseu, D. Miguel da Silva terá conhecido João Torto, um homem que, à semelhança do Bispo, destoava do Mundo em que vivia.
João Torto tem este perfil, de certa forma quixotesco, "foi e não foi", "fez e não fez", próprio daqueles a quem nos juntamos num acto de irresponsável fé. E sorrimos e passamos a ser, todos, um sonho só.
Em 1540, João Torto não podia deixar de subir lá acima e tentar. Subir e tentar. Subir e tentar. Sonhar e tentar falhar o melhor possível. Mesmo que morresse.
Em 2012, João Torto tem que se aproximar da pedra dura, tocar o granito frio da torre, olhar lá de cima e sorrir. Lembrar: sempre tentar para nunca conseguir.












Teatro Nacional D.Maria II (Sala estúdio), Lisboa.
de 08 de Março a 01 de Abril de 2012.

Direcção artística de Rafaela Santos; Dramaturgia: Fernando Giestas; Consultoria artística: Cristina Carvalhal.
Interpretação: Leonor Keil, Margarida Gonçalves, Miguel Fragata e Rafaela Santos.
Uma co-produção Teatro Nacional D. Maria II , Magnólia Teatro, Amarelo Silvestre e Fundação Lapa do Lobo.

Magnólia Teatro
http://magnolia.amarelo-silvestre.pt

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O que eles dizem (86):

As coisas não se vêem por metade
Ou passas e as fitas de repente
pousando um longo olhar de eternidade
que logo vai aos fumos da memória,
ou viverás com elas, nelas vendo-te
como em espelho que te sobrevive

Mas o passar como quem visse tudo
e ali ficasse não ficando a vida
faz que as coisas se cubram de um cristal
opaco e as diluindo em corpo falso
aquele que é quanto então mereces

Jorge de Sena
(Escrito em Verona)



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