terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os idos do passado fim-de-semana













Foi contagem que nunca quis fazer ao longo dos anos que levo de Rádio, mas este ano já foi cerca de meia-dúzia de artistas musicais que noticiei o desaparecimento (Mick Karn, Gerry Rafferty, Gary Moore, Clarence Clemons, Amy Winehouse…). Todos eles passei na Rádio. Antes e depois de morrerem.
Sábado passado, Cesária Évora.
A diva dos pés descalços ou Cise (como era muitas vezes conhecida) tem desde há quase vinte anos passagem mais ou menos regular na Rádio em Portugal (consoante as épocas e as estações) e, claro, nesse dia e nos que se seguiram com mais intensidade.
A primeira vez que vi Cesária Évora em palco foi no célebre concerto no Coliseu dos Recreios em Lisboa, no dia 15 de Março de 1997. Juntamente com Paulino Vieira – um músico imenso! – e Tito Paris. Voltei a vê-la depois em outras actuações.
Entrevistei uma única vez Cesária Évora para a TSF, em Setembro de 1997, no Instituto Camões em Lisboa. Foi em forma de conferência de imprensa, em que os jornalistas presentes fizeram tudo menos perguntas. Não faltavam elogios, declarações de admiração e atitudes laudatórias. Mais parecia uma celebração.
O então presidente do instituto, sentado ao lado da cantora cabo-verdiana, admirou-se imenso quando fiz de rajada duas ou três perguntas a Cesária, às quais respondeu com a espontaneidade e simplicidade que a caracterizavam.
Anos mais tarde, em 2001, no âmbito da série de programas «Como no Cinema», utilizei uma única vez a voz de Cesária Évora num programa dedicado às «Saudades do Mar».
Não existiu até hoje outra voz que assim cantasse, como Cesária, o Atlântico africano. O azul líquido.

Cesária Évora – “Mar Azul” (1994):



Por mera coincidência, o antigo vocalista do Conjunto Académico João Paulo, Sérgio Borges, também morreu no mesmo dia que Cesária Évora. Mas para o intérprete de “Hully Gully do Montanhês” não houve a mesma atenção por parte dos media e, em particular, por parte da Rádio, palco fundamental de popularidade oferecido a um dos grandes nomes de cartaz do chamado Yeah Yeah português.
Entre outros momentos de glória, Sérgio Borges venceu o Festival RTP da Canção em 1970. Já tinha participado (com o Conjunto Académico João Paulo) em 1966 e voltaria a participar, a solo, duas décadas depois.

Sérgio Borges – “Onde Vais Rio Que Eu Canto” (1970):



Conjunto Académico João Paulo
– “Hully Gully do Montanhês” (1965):

Muito menos atenção se deu ainda a Carlos Meneses, desaparecido no dia seguinte (Domingo, 18 de Dezembro).
Carlos Meneses foi o primeiro músico de jazz português reconhecido internacionalmente, e pioneiro na introdução da guitarra eléctrica em Portugal.
Tanto no caso de Sérgio Borges, como no de Carlos Meneses, é de saudar a atenção dedicada do sempre atento e atempado jornalista (e ex-radialista) Luís Pinheiro de Almeida, autor do blogue «IÉ-IÉ».




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