segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

José Maria Lameiras

1951-2010 





















Lembro-me nitidamente das primeiras vezes que ouvi a voz de José Maria Lameiras na Rádio. 1986, na Rádio Cidade. Ao tempo, Lameiras era animador dos quadros da Rádio Renascença, mas com o advento das rádios piratas em Portugal foi convidado por amigos (o Zé não sabia dizer "não") e aceitou em dar uma ajuda no arranque em força daquela então embrionária estação local da cidade da Amadora. José Maria Lameiras apresentava o «Espaço Êxito»: 60 minutos à hora do almoço, de segunda à sexta-feira, com o patrocínio do jornal de espectáculos «Êxito». Nessa altura a Rádio Cidade era uma mistura de cultura radiofónica brasileira e portuguesa. Este período de colaboração externa de José Maria Lameiras na Rádio Cidade foi curto.
Depois voltei a ouvi-lo mais demoradamente ao longo do ano de 1988, especialmente no Verão, ao som do programa «O Feitiço da Lua» na RGT-Rádio Geste [96.6 / Lisboa]. A acompanhá-lo de hora à hora nos noticiários estava o jornalista João Janes (que futuramente viria também a ser colega de Lameiras na TSF). «O Feitiço da Lua» acontecia de segunda a sexta-feira, nas madrugadas da meia-noite às sete da manhã.
A partir de 1989 tornou-se uma das vozes de continuidade da Rádio Notícias. Assim esteve na TSF até Setembro de 2006.
Nos doze anos em que fomos da mesma rádio, guardo as melhores recordações dos inúmeros momentos das passagens de serviço, das permutas musicais, do bom humor e do eterno sorriso mesmo nos momentos mais infelizes do trabalho e da Vida. E foi numa dessas rendições em antena que nos vimos pela última vez. Em plena Rádio. Não partilhava com o José as suas paixões pelo automobilismo nem pelo hipismo, mas sim a paixão pela música e pela Rádio. E quanto a música valeram e muito os conhecimentos de José Maria Lameiras nas áreas da folk e do rock sinfónico. Lameiras foi um dos vários radialistas que esteve presente nos míticos concertos dos Genesis de Peter Gabriel em Portugal em Março de 1975, em Cascais.
Sofro a perda dos meus pares mais directos com o estranho sentimento de quem observa de perto a soma incontrolável e incontornável daquilo a que chamamos de sorte ou azar, dos sortilégios da Vida, que mais não é que a confluência inevitável das causas e consequências de ser aquele outro e não eu – um igual – a encontrar-se naquela presente circunstância, à qual ninguém nunca poderá escapar.

O animador optimista 
“O Samba da Bênção” era muitas vezes utilizado (inclusive em disco de Vinil) por José nas emissões em directo na TSF, no tempo em que os animadores tinham a liberdade editorial de seleccionarem musicalmente os espaços que lhes cabia apresentar.
As palavras intemporais de Vinícius de Moraes serviram também muitas vezes de bênção a quem tinha a incumbência de enfrentar, com saúde ou com a falta dela, longas horas em estúdio nas mais fundas horas da noite. Palavras de gratidão e reconhecimento da bondade do espírito humano que assentavam em José Lameiras como assentam hoje em dia em muito poucos que povoam os mesmos ares. Não se queixava de nada, não dizia mal de ninguém, estava sempre pronto a responder às solicitações profissionais que lhe eram feitas, aceitando-as sempre, mesmo que em seu prejuízo resultassem. Não pensava em si próprio. Os outros estavam sempre primeiro.
“É melhor ser alegre que ser triste”, a frase emblemática do “Samba da Bênção”, era o espelho da vida de José Maria Lameiras. O grande companheiro da Rádio que teve uma vida muitas vezes triste, mas era alegre.

Notícia no site da TSF
Notícia no «Diário de Notícias»



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