quarta-feira, 22 de julho de 2009

Heróis no AR















O que eles dizem (45)

«O que as pessoas que advogam as playlists defendem (na estrita linha das políticas das administrações, claro) é que têm de dar às pessoas o que elas querem. Como sabem o que é? É simples: fazem uns estudos de mercado (com uns universos que deixam muito a desejar) às portas dos supermercados, em que perguntam às pessoas o que elas gostam de ouvir. Sinceramente não acho nada fiável, é uma mentira estatística, onde não cabe um Tom Waits. Porque é preciso ver que o problema das playlists é saber o que lá se põe. Uma playlist pode ser recheada de muitas maneiras».
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«Os formatos são mais baratos. Os ficheiros de áudio são muito pesados, como se sabe, exigem muita memória, mas a memória embarateceu muito. Eu posso hoje em dia programar horas e horas de emissão, e isso custa muito menos dinheiro do que ter pessoas em antena a serem criativas. A questão do custo é fundamental. Mas é preciso estar atento às consequências de só fazer assim».

António Sérgio
Autor do programa «Viriato 25»
RADAR [Lisboa 97.8 FM] 2ª-6ª feira (23:00/01:00)
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«Tudo começou com a palavra Questões. Eu já tinha feito um outro programa, chamado Questões de Família, que girava em torno das óperas – um dia dei por mim a pensar que a maior parte das histórias das óperas (e não só, também as das tragédias, as do teatro, como por exemplo a de Hamlet) eram todas questões de família. Nas óperas de Verdi também é assim, ele tem aliás uma fixação nas questões entre os pais e as filhas. Um dia esse programa acabou e pediram-me que fizesse outro. Pensei então que precisava de um conceito onde coubesse tudo, e foi assim que cheguei à palavra Moral. Mas não a moral dos costumes, antes a moral entendida como ética, sim. Porque todas as questões são questões de moral. A lei cobre muita coisa, mas e os aspectos éticos? Os do BPN estão cobertos pela legalidade, mas estarão pela moral? Uma moral para hoje».
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«Os gestores, os administradores, os banqueiros, os ministros, os políticos, que eram pessoas moralmente insuspeitas, em tipos que conseguiram rebentar com a economia mundial – o que não quer dizer que não houvesse já fraudes e vigarices, mas a verdade é que a escala da questão moral é agora global, tal como o mercado».
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«Quem é que em meados dos anos 1990, quando imaginei o programa, se atrevia a defender a intervenção do Estado na economia? Quem o fizesse era um retrógrado ou um fascista, um intervencionista ou, pior ainda, um comunista, que são os grandes interventores. O mercado era uma coisa sacrossanta, estava no seu esplendor, todos os opinion makers eram liberais. Foi uma vaga, que tudo liberalizou e chegou às relações de trabalho».

Joel Costa
Autor do programa «Questões de Moral»
RDP-Antena2 2ªfeira (13:00/14:00); (23:00/00:00)

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«Sempre que os puristas, ou os fundamentalistas, ficam arreliados, é bom sinal, é sinal de que estamos a deitar muros abaixo, a abrir janelas, porque a música é um bem que não deve ser fechado em clubes privados só para alguns».
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«Hoje em dia, havendo uma oferta de possibilidades que parece infinita, acho que a generalidade das pessoas acaba por se perder. Mas há ainda muita gente que gosta de descobrir coisas novas, que gosta de se deixar surpreender, para além dos formatos e dos tops de vendas. Gente que vai dispensando essa música descartável, a novidade que se ouve durante uma ou duas semanas e que depois desaparece. Isso tem que ver com a maneira como se consome música e com a formação cultural que não há... e que leva a que tantas pessoas não procurem para além daquilo que é dado pelas playlists. Por outro lado, é preciso ver que muita dessa música que passa nas rádios de massas não tem nada que ver com a nossa cultura, e é também por isso que os mais jovens não ouvem rádio. O hip-hop, por exemplo, que é uma das linguagens que mais interessam os adolescentes, praticamente não existe nas rádios. E o hip-hop em português nem se fala, está ausente na maioria delas».
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«A maneira como nós tratamos actualmente a música tem consequências».

Tiago Santos
Autor do programa «Planeta Jazz»
Oxigénio [Lisboa 102.6 FM] sábado (20:00/22:00)


In: «Notícias Magazine» [DN; JN] Domingo, 19 de Julho 2009
por Sarah Adamopoulos; Fotografia de Rui Coutinho
Ler trabalho completo aqui (em linha até dia 25)



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