domingo, 30 de novembro de 2008

bit X 2









Firmino Pereira, mais conhecido por Zito C., é o autor de «bitsounds», o podcast musical que hoje mesmo completa dois anos de edições e está de parabéns pela qualidade e continuidade. «bitsounds» já chegou ao mundo da webradio [Rádio Zero] e vai na edição nº 74. Mas, até ao dia de hoje, há um percurso que vamos agora conhecer na última das entrevistas que desde Fevereiro de 2006 foram sendo aqui publicadas aos podcasters que viriam a formar o núcleo fundador da recentemente inaugurada «Irmandade do Éter».
Mais do que a viagem a uma caixa de música avariada, vamos ficar a saber melhor quem é Firmino Pereira/Zito C., o que pensa e o que tem a dizer sobre Rádio, Música e Podcast.


Entrevista a ZITO C.


Quando aderiste ao Podcast? Como surgiu a ideia?

O primeiro «bitsound» nasceu a 30 de Novembro de 2006, e ainda com muito pouco conhecimento sobre podcasts. A ideia era muito simples, deixo a 'declaração de intenções' publicada na época:
"A experiência de gravar um podcast é semelhante à gravação de uma cassete com a compilação daquelas músicas que gostamos muito e que gostamos de partilhar. A diferença é que as cassetes eram direccionadas para alguém em particular, o podcast não tem público-alvo definido, é para quem o encontre e tenha interesse em ouvi-lo."


Achas que o podcast é uma ameaça à rádio tradicional ou é apenas uma mais valia como foi o aparecimento da Internet?

Não considero que exista qualquer tipo de ameaça, como em quase todas as novas tecnologias, temos que saber tirar o melhor proveito delas. As rádios ditas tradicionais têm sabido tirar o devido proveito desta nova tecnologia ao colocarem já muitos programas no formato podcast. E um podcast serve para muito mais que substituir programas de rádio, é um meio de difusão sonora que cada um pode utilizar a seu belo prazer.


Como vês o panorama actual das rádios em Portugal?

Ainda me considero órfão da extinta XFM. Foi a primeira vez que me identifiquei com uma rádio, com o seu conceito, com os seus objectivos, com quase toda a música, e essencialmente com a forma de fazer rádio. Foi com a XFM que conheci alguma da melhor música que ainda hoje gosto, e foi com a XFM que abri horizontes para tantos novos sons. Depois da XFM virei-me para a TSF, pelas notícias, pelos excelentes programas de autor. Com a mudança que ocorreu na TSF apenas continuo a ouvi-la quando se muda de hora. A Radar tem muitos programas interessantes que acompanho menos do que gostava.


As playlists são um mal necessário? Um mal necessário para as rádios para a viabilidade económica por via das audiências?

Não gosto nada de playlists, aceito a justificação da “viabilidade económica” sem no entanto compreender que à sua conta se deixem cair ou limitem excelentes programas de autor. Uma das vantagens dos podcasts é a liberdade total do seu criador.


O que pensas sobre a actual lei das quotas de música portuguesa na Rádio?

Não consigo perceber como se pode impor a uma rádio privada que passe determinado tipo de música, deve ser uma opção de cada uma. E será que alguém cumpre? Alguém fiscaliza? E se uma rádio não cumprir?


Voltando ao podcast: até onde achas que vai ter este fenómeno?

É apenas mais um meio de divulgação/difusão sonora. Veio para ficar e para conviver pacificamente com a rádio.


O podcast é a salvação para os autores?

O podcast, tal como a webradio, alarga e muito os potenciais ouvintes, e pode ajudar alguns autores/programas que não encontrem espaço na rádio tradicional.


«bitsounds» está na webradio Rádio Zero. Gostarias que o programa «bitsounds» encontrasse espaço numa rádio com maior dimensão?

Nunca vi o «bitsounds» como um programa de rádio, nem nunca tive qualquer pretensão a.
A ideia da Rádio Zero partiu do Pedro Esteves [lado B], que achou por bem recomendar-me ao pessoal da Zero, eles fizeram o convite, eu aceitei. Muito sinceramente não acho que seja um “programa” que justifique passar noutro tipo de rádio.


És ouvinte de rádio? Quando começaste a ouvir e o quê?

Actualmente ouço muito pouca rádio, e aí talvez a culpa seja dos podcasts e dos leitores de mp3. Ouço essencialmente notícias (TSF), e alguns programas de autor da Radar e da TSF.
Ouvir rádio sem ser como ruído de fundo comecei por voltas dos 13/14 anos. Culpa da «Íntima Fracção» do Francisco Amaral. Lembro-me que passava já tarde, e que gravava em cassete para ouvir durante o resto da semana, e para tentar descobrir os nomes que por lá passavam.


Da rádio que actualmente ouves, o que é que não perdes de ouvido?

Como disse ouço cada vez menos música na rádio, dou apenas alguma atenção aos seguintes programas da Radar: «Álbum de Família»; «Discos Voadores»; «S.O.S. Radar» e «Vidro Azul». Os programas que mais gosto na rádio são todos da TSF: «Pessoal... e Transmissível»; «Terra-a-Terra» e «Cais da Matinha».


Quais são os radialistas que mais gostas?

Naturalmente os programas que sigo têm os radialistas que mais gosto: Carlos Vaz Marques e Fernando Alves. Gostaria também de referir os radialistas que melhor sabem "dar música": António Sérgio; Pedro Esteves; Ricardo Mariano; Tiago Castro e Nuno Galopim. Uma nota especial para o excelente trabalho de sonoplastia de Mésicles Helin [da TSF].


Chegaste a ser ouvinte das Rádios piratas?

O mundo das rádios piratas passou-me um pouco ao lado...


Tens tido bom feedback do programa através da Internet e do Podcast?

O feedback que recebo é maioritariamente positivo, naturalmente nestas coisas da Internet quem não gosta vai embora sem deixar feedback.


Queres continuar a estar presente na rádio?

O «bitsounds» é um podcast que passa no éter virtual da Rádio Zero.
Penso continuar neste formato.


O que pensas do actual panorama radiofónico em Portugal?

Por cá há alguns programas muito bons, e rádios que tentam manter-se num mercado altamente competitivo. Como nos outros meios de comunicação social a competitividade nem sempre favorece a qualidade. O que menos gosto na maioria das rádios ditas comerciais é a falta de atenção que se dá à música. Mesmo em formato playlist as escolhas podiam ser mais interessantes, não arriscam nada, preferem dar às pessoas o que estas já conhecem.


Em tua opinião, qual seria/será a saída ou a salvação para a actual rádio tradicional?

A Rádio tem que se adaptar à constante mudança tecnológica. O desafio é partilhado com jornais e mesmo a televisão. Saber o quem, quando e como se ouve Rádio é fundamental, e principalmente não ignorar as novas tecnologias, antes saber tirar o máximo partido delas para chegar a cada vez mais ouvintes.


Já pensaste em dar voz – viva voz – às edições de «bitsounds »? Fazer a apresentação do alinhamento, por exemplo, como se fosse um programa de Rádio?

A questão da voz nunca foi equacionada para o «bitsounds», o formato não ajuda. A composição do «bitsounds» faz-se de muitos cortes e colagens de sons, sempre em camadas. O alinhamento que tento dar em texto escrito não é fiável, serve como referência. Com o «bitsounds» no alinhamento da Rádio Zero vou dando algumas pistas - em voz viva - sobre o que se vai passar no programa, e por agora fico-me por aqui. A voz masculina que apareceu algumas vezes, poucas, é minha.


De quem é a voz feminina no marcador de cada emissão de «bitsounds»?

A voz feminina é da Lara Ribeiro, uma “descoberta” do “caça-talentos” Pedro 'B' Esteves.


A música portuguesa ou em português está fora de «bitsounds». Alguma razão especial para isso ou é mera questão estética?

A falta de música portuguesa no «bitsounds» deve-se exclusivamente ao meu pouco, e lamentável, eu sei, conhecimento da música que se faz por cá. E ainda para pior, pelo «bitsounds» passa música de tantos e tantos países... um ponto a melhorar no futuro.


«Beating The Pearls» é um outro podcast ao qual estás ligado. O que é realmente?

O conceito do «Beating The Pearls» é simples: permitir que convidados façam um podcast, onde lhes é proposto:
"partilhar músicas esquecidas por muitos, desconhecidas por outros tantos, músicas fora de tempo, músicas gravadas na memória para sempre que necessitam de ser libertadas, que merecem voltar..."
Eu dou apoio técnico sempre que necessário.


«bitsounds»: http://bitsounds.blogspot.com/
«bitsounds» na Rádio Zero: 3ª feira (18:00/19:00):
http://www.radiozero.pt/programs/bit-sounds/
Mais sobre «bitsounds» na «Rádio Crítica: (17.Março.2008)

Outras entrevistas na «Rádio Crítica»:
Pedro Esteves (ladoB) 11.Fevereiro.2006
Ricardo Mariano (Vidro Azul) 18.Fevereiro.2006
Francisco Amaral (Íntima Fracção) 25.Fevereiro.2006
Nídio Amado ([percepções]; O Cubo) 07.Março.2006
Hugo Pinto (Miss Tapes) 17.Novembro.2008



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