segunda-feira, 7 de abril de 2008

updates gerais

Depois dum curto hiato na actualização deste blogue, alguns dados e acontecimentos das últimas semanas (que me desculpem os habituais leitores/ouvintes, irmãos de éter, passantes ocasionais, pessoas interessantes e interessadas, mas nestes dias o apelo marítimo foi mais forte):

HOT night in the CLUBE
19 de Março
2008 (21:00/00:00) Antena2

Os sessenta anos do «Hot Clube de Portugal» foram brilhantemente assinalados na rádio, através de uma emissão especial na Antena2, em directo do Cinema São Jorge em Lisboa. É por estas e por outras (muitas) razões que sou um acérrimo defensor do Serviço Público de Radiodifusão. Sem ele, a cerimónia e o espectáculo não teriam sido transmitidos por nenhuma outra estação de Rádio.
A Big Band do Hot Clube de Portugal com Maria João e Mário Laginha realizaram um concerto especial no palco do Cinema São Jorge. Dois inegáveis talentos de Jazz nacional, tocaram e cantaram, entre muitos outros temas, “Beatriz”.



Depois, só para os presentes, seguiu-se uma Jam-session no Foyer do Cinema São Jorge e, aqui, acho que esse acontecimento também deveria ter sido transmitido. Seria uma oportunidade excelente para fazer reportagem em directo, num registo mais informal e descontraído, falando com os músicos, assistentes, convidados, recolher mais e outras impressões, opiniões, etc.

E, inevitabilidade das inevitabilidades, lá voltaram os assaltos da memória da Rádio, o Jazz e eu. Na primeira metade da década de noventa realizei um programa de Jazz na RSS. «Postal Jazz» trazia companhia: um músico e um melómano/consumidor compulsivo de Jazz. «Postal Jazz» era para ser apenas um apontamento/crónica semanal sobre novas edições de Jazz, mas depressa evoluiu para a dimensão de programa e foi assim que viveu durante quase um ano, tendo acabado com a extinção da estação onde era emitido. Apenas duas emissões foram realizadas em directo: uma em que os convidados residentes estiveram ausentes e a derradeira. Ambas em estúdio. De resto, toda a série foi previamente gravada, quase sempre na cave do «Café Lisboa Bar», onde se realizavam jam-sessions e outras actuações jazzísticas. As gravações decorriam antes da cave abrir. Tinham lugar uma ou duas horas antes do espaço ser aberto ao público, pelo que estava reservado para nós. Nesta aventura comigo estiveram sempre desde a primeira à última emissão os convidados residentes José Carlos Dias (músico/guitarrista/compositor e mentor dos projectos Les Élephants Terribles e Banguru); Ricardo Pontão (melómano/consumidor compulsivo/apreciador de Jazz) e o técnico/sonoplasta de rádio Jorge Ferreira. Bonny foi sempre o nosso anfitrião no «Café Lisboa Bar». A ele devemos a cedência do espaço, a música ambiente e a saudável permuta com a rádio e o programa. Há poucos dias passei à porta do «Café Lisboa Bar». Portas e janelas fechadas, aspecto de abandono. Nem um papel ou qualquer aviso. O expositor do cardápio e da ementa vandalizado e com o vidro partido. O outrora luminoso «Café Lisboa Bar» era já coisa do passado. Mais um espaço devoluto na grande capital do vazio nacional.
«Postal Jazz» teve outra excepção ao longo do seu tempo de vida, que foi a transmissão integral (em diferido, com mais de duas horas de duração) da iniciativa «Jazz em Letras» que teve lugar na Faculdade de Letras de Lisboa. Uma iniciativa co-organizada por José Carlos Dias, em parceria com a Associação de Estudantes e a RSS. Foi uma noite M-E-M-O-R-Á-V-E-L, talvez um dos melhores momentos que tive oportunidade de realizar na rádio. Nessa noite estiveram em palco alguns nomes que viriam a vingar no Jazz nacional, nomeadamente Alexandre Frazão e o pianista (na altura muito jovem, ainda adolescente) Filipe Melo, que recentemente enveredou por uma carreira paralela como realizador de filmes de terror (!).
O nome «Postal Jazz» ocorreu-me depois de ter visto a capa de um disco (edição pirata) ao vivo de Tom Waits com o nome «A Postcard of Jazz». Não o adquiri e, se bem me lembro, vi-o numa das antigas Feira-Mix no Mercado da Ribeira em Lisboa ou numa das feiras do Disco Usado.
Até agora, a última relação que tive com o Jazz na Rádio foi na TSF, num período que durou exactamente doze meses (Setembro 2002 – Setembro 2003), em que se apostou exclusivamente no Jazz e no Blues (géneros musicai congéneres) nas madrugadas (02:00/06:00). Por esses dias de Setembro de 2003, também foi extinta a crónica diária «Jazz Avenue» de António Curvelo.
A TSF teve na sua história de vinte anos (nos primeiros dezasseis) uma forte ligação ao Jazz: «Quem Tem Medo de Charlie Parker?» e «TSF-Blues» (de António Curvelo) e «O Jazz é Como As Bananas» de Rui Neves e Raul Vaz Bernardo são exemplos marcantes. Desde então (Setembro de 2003) que o Jazz nunca mais voltou a ter espaço regular na Rádio Notícias.
Actualmente, é o serviço público de radiodifusão que oferece os melhores conteúdos de Jazz da rádio portuguesa: «Um Toque de Jazz» de Manuel Jorge Veloso (Antena2) ; «Jazz Com Brancas» de José Duarte; «Cinco Minutos Jazz» e «A Menina Dança?» do mesmo autor/realizador (Antena1).
Existem espaços dedicados ao Jazz em outras estações, como por exemplo nas rádios Europa-Lisboa e Marginal, esta última com um perfil smooth-Jazz perfeitamente definido. Mas a nível nacional, é na RDP-Antena1 e Antena2 que o Jazz está melhor representado e defendido.
Ao longo dessa semana em que se assinalaram os sessenta anos do Hot Clube, o programa «Banda-Sonora» de Nuno Infante do Carmo no RCP foi inteiramente dedicado à efeméride (de segunda a sexta-feira; 23:00/00:00), recebendo convidados e emitindo muito e bom Jazz.

Iraque, 20 de Março de 2003
A rádio não deixou de assinalar os cinco anos do início da invasão do Iraque. Há cinco anos estava a realizar uma das madrugadas de Jazz & Blues que anteriormente referi. A todo o momento a emissão iria transforma-se por completo. A redacção já estava preparada desde a véspera para a iminência do ataque militar. Por volta das duas horas e quarenta minutos começam a soar as sirenes de Bagdad. Interrompe-se a difusão de música e entra em cena uma emissão especial contínua que durou dias a fio. É isto a Rádio em directo e ainda bem que é assim.



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