quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O que diria Hitchcock?













A Cinemateca Portuguesa é a maior e a melhor janela para o mundo do Cinema. Para quem se interessa e quiser saborear algumas das melhores obras de sempre da sétima arte, é lá que as encontra. Há dias, num desses momentos mágicos, a releitura – em sessão única – do filme «The Woman In The Window» de Fritz Lang (1944). Em Portugal este filme ficou com um título que não faz jus ao original: «Suprema Decisão». A Mulher na Janela (numa tradução à letra) seria bem mais adequado. O filme «The Woman In The Window» não podia ser mais surpreendente. Não só pela primorosa realização, técnicas ousadas e inovadoras – o clímax da criatividade de Lang – mas principalmente pelo final totalmente imprevisível. Como disse de viva voz João Bénard da Costa na apresentação da sessão: O filme cujo final é o mais proibido de revelar a quem nunca o viu.
A Cinemateca tem nestes meses de Janeiro e Fevereiro uma programação absolutamente irresistível. No mês de Fevereiro, por exemplo, estará em exibição única o filme «Spellbound» de Alfred Hitchcock. Sempre com o epíteto de Mestre do suspense, Hitchcock realizou numerosas obras-primas do Cinema, em quase todos os casos com óptimos resultados junto do público e da crítica. «Spellbound» (1945) contou com a participação artística de Salvador Dalí (na sequência do sonho), num dos momentos oníricos mais fantásticos alguma vez produzidos na longa história do Cinema Clássico. De Hitchcock sempre adveio imensa imaginação nas suas obras. Enredos imprevisíveis, desfechos surpreendentes. Tudo era fruto de uma grande capacidade criativa, reconhecida e incontestável. Um (dos muitos) desses casos é o filme «Rear Window» (1954), que em Portugal chegou sob o nome de «Janela Indiscreta». A Rádio sempre conviveu bem com títulos de programas arrancados ao mundo do Cinema. É uma fórmula eficaz, que não desvirtua ambos os universos. Todavia, no baptismo de espaços radiofónicos deveria tentar-se sempre criar nomes próprios sem os ir buscar ao Cinema ou a quaisquer outras fontes de inspiração mais ou menos óbvias. Mas, sublinho, a obtenção de títulos oriundos da arte cinematográfica é eficaz em rádio e costuma resultar.
«Janela Indiscreta» é também o nome de uma actual crónica (que espreita diariamente a blogosfera nacional) de Pedro Rolo Duarte na RDP-Antena1, já foi nome de um programa de divulgação musical da autoria de Ricardo Saló, também na Antena1, nos anos oitenta e desconheço se algum outro espaço radiofónico lhes antecedeu ostentando o mesmo nome. Também houve um blogue com o nome de «Janela Indiscreta». Agora há a «Janela Indiscreta» na TSF com a assinatura de Mário Augusto. Uma crónica diária que vale a pena ouvir pelo conteúdo que apresenta: histórias de bastidores das grandes películas, acontecimentos menos conhecidos e alguns fait-divers relacionados com actores, actrizes, realizadores e demais intervenientes na sétima arte. São crónicas bem documentadas e ilustradas com sons dos filmes referidos. O nome «Janela Indiscreta» assenta bem em qualquer um dos programas anteriormente referidos. Não é essa a questão fulcral. O que está mesmo fora de cena é coexistirem com o mesmíssimo nome, no mesmo tempo, em estações de referência concorrentes. Com tantos e variados títulos assinados pelo Mestre do suspense, não se arranjaria outra designação? O que diria Hitchcock?



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